Extenuada já com tanta solicitação burocrática, cerrando os dentes num rosto que faço questão de manter alegre, limito-me a fazer minhas as palavras de Carlos Ceia, Professor Doutor da Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Considero que disparou em várias direcções, até nos "opinion makers" lusos, mas fê-lo de um modo justificativo dando alternativas.
Revejo-me totalmente neste texto. Leiamo-lo:
"Há modelos eficazes de avaliação de professores por esse mundo fora que podiam ter sido adoptados de forma quase consensual, sobretudo se o objectivo tivesse sido o da simplificação do modelo...
A educação pública em Portugal,
ao nível dos ensinos Básico e Secundário,
está sob avaliação constante de todos os portugueses,
porque todos se sentem capacitados para
sobre ela
se pronunciarem
como não fazem para outras áreas sociais
e porque todos os políticos
a tomam como frente de batalha
em nome do progresso social.
Podíamos falar de uma avaliação informal da educação pública nos casos em que o cidadão comum se pronuncia, mas o grau de seriedade e de atenção com que todas as opiniões são publicitadas permite-nos concluir que todos exigimos que as nossas ideias sobre a educação pública sejam formalmente válidas. Todos acreditamos ter uma solução para a educação pública, mesmo nos casos (a maior parte) em que apenas opinamos por opinar.
Esta falácia comunicacional tem ajudado mais a destruir a educação pública do que a contribuir para a sua democratização, como seria, em teoria, desejável.
O papel social do professor em Portugal está tão diminuído que qualquer política que tente regular as condições da profissionalidade do professor está condenada a dois tipos de sentença dadas em simultâneo: a dos próprios professores que lutam contra um legislador que odeia a profissão, e a da própria sociedade não educativa que odeia os professores, porque os vê como resistentes à mudança.
Só uma política de reconciliação
de todos os intervenientes na educação pública
podia ter êxito
e essa postura reconciliadora
está longe de qualquer agenda política
verdadeira.
As mais recentes políticas para
regulação formal da actividade docente
continuam a ter as mesmas características:
bons princípios gerais,
que servem de suporte à defesa pública das políticas
e que poucos conseguirão contestar,
seguidos de péssimas execuções técnicas.
O que pode explicar esta situação estranha é o predomínio de bons políticos na área da educação que aparecem rodeados dos técnicos mais incompetentes, cuja acção coloca os políticos das boas ideias num beco sem saída: a necessidade de defender uma boa ideia para a educação com uma péssima adequação legislativa.
(…)
Há ainda a denunciar medidas tão incompreensíveis como o timing de aplicação das leis (novo estatuto do aluno - aquele que não precisará de aprender para ter sucesso - e novo modelo de avaliação dos professores, que surgem a meio de um ano lectivo) e a incapacidade para dialogar e ouvir quem também, como o governante, deseja o melhor para a escola pública. Mas de que serve haver ministros que defendem fazer muitas reuniões com os parceiros educativos, se têm ignorado todos os pareceres construtivos quer desses parceiros quer do próprio Conselho Nacional de Educação?
Na escola pública actual, só parece haver lugar para quem souber executar tarefas programadas em decreto-lei. Está a impor-se o burocrata das fichas, registos de faltas, grelhas, matrizes, relatórios, actas, planificações, projectos educativos, planos individuais, etc. O professor que tem o poder de pensar na matéria do seu ensino, reflectir sobre a melhor aprendizagem dos seus alunos e conduzir-se a um patamar de realização profissional de excelência académica está a ser suprimido por decreto.
As actuais políticas educativas nascem no Castelo da 5 de Outubro mais burocratizadas do que qualquer desejo de resolver com bom senso os problemas da escola pública.
Não estranho que
onde há professores-educadores-pensadores,
apenas se vejam funcionários administrativos
capazes de desempenhar tarefas
de preenchimento de papéis e
condução mecânica de alunos
que se querem modelares
por força do cálculo estatístico
e não por força da
efectiva aprendizagem de novos conhecimentos.
Vivemos o tempo do professor-escrivão, aquele que deverá dispensar o saber criativo do educador e que se distinguirá no desempenho administrativo e nas boas acções, aquele que sabe calcular o sucesso escolar em função da proporcionalidade pré-destinada por decreto legal.
Chegou o fim da criatividade,
da espontaneidade e do livre-pensamento,
para triunfar o modelo de escola acéfala
que apenas produz estudantes autómatos
cujos actos se traduzem mecanicamente
em fichas de avaliação que
programam todos os comportamentos.
O professor-escrivão não se distingue deste tipo de aluno - ele é o modelo de professor com que qualquer estatística governamental sonha.
Não tardarão aí as boas notícias da OCDE sobre o elevado crescimento do sucesso escolar português. "
Tudo em nome do progresso!...que desencanto.
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