30 Julho 2008
[roubado do OBVIOUS -postado por seven]
Muitos conhecerão esta história, antiga mas verídica, passada num exame de Física da Universidade de Copenhaga. Não resisti a colocá-la aqui em plena época de exames e em que tanto se tem falado e feito no âmbito do Ensino. Ela reforça a minha convicção de que a Escola - sobretudo a que temos actualmente, com raras excepções - fomenta a mediocridade (entenda-se uniformidade, mediania) à custa da anulação das diferenças. Pura insensibilidade sistémica...
Reza assim a história:
À questão "Descreva como determinar a altura de um arranha-céus usando um barómetro" um estudante respondeu: "Amarre uma longa corda à parte mais estreita do barómetro, a seguir faça baixar o barómetro do telhado do arranha-céus até ao chão. O comprimento da corda mais o comprimento do barómetro será igual à altura do edifício".
Esta resposta altamente original enfureceu o examinador ao ponto de chumbar imediatamente o estudante.
O estudante apelou, baseando-se no facto de que a sua resposta estava indubitavelmente correcta e a universidade nomeou um árbitro independente para decidir o caso. Na verdade o árbitro decidiu que a resposta estava correcta, mas que não demonstrava qualquer conhecimento de Física.
Para resolver este problema foi decidido chamar o estudante e permitir-lhe que, em seis minutos, providenciasse uma resposta verbal que mostrasse, pelo menos, uma certa familiaridade com os princípios básicos de Física.
Durante cinco minutos o estudante ficou em silêncio, franzindo a testa em pensamento. O árbitro lembrou-lhe que o tempo estava a passar, ao qual o estudante respondeu que tinha diversas respostas extremamente relevantes, mas que não sabia qual delas utilizar.
Sendo avisado para se despachar, o estudante replicou da seguinte forma:"Em primeiro lugar, poderia pegar num barómetro, ir até ao telhado do arranha-céus, deixá-lo cair ao longo da parede e medir o tempo que ele demora a atingir o chão. Desta forma, a altura do edifício poderá ser trabalhada a partir da fórmula: H= 0,5g x t2. Mas isto seria má sorte para o barómetro...
Ou então, se o sol estivesse a brilhar, poderia medir a altura do barómetro, depois de assentá-lo na extremidade e medir o comprimento da sua sombra. Em seguida, iria medir o comprimento da sombra do arranha-céus e, depois de tudo isto, seria uma simples questão de aritmética proporcional para calcular a altura do arranha-céus.
Mas, se quiserem ser rigorosamente científicos acerca disto, poderão amarrar uma longa corda ao barómetro e abaná-lo como um pêndulo, primeiro ao nível do chão e depois ao nível do telhado do arranha-céus. A altura é trabalhada pela diferença na força da gravidade - T=2p... Ou, se o arranha-céus tiver uma escada exterior de emergência, será mais fácil usá-la e marcar a altura do arranha-céus em comprimentos do barómetro, e em seguida adicioná-los por aí acima. Se, simplesmente, quiser ser chato e ortodoxo na resposta, certamente, poderá usar o barómetro para medir a pressão de ar no telhado do arranha-céus e no solo, e converter os milibares em pés para dar a altura do edifício.
Mas uma vez que estamos constantemente a ser exortados a exercitar o pensamento independente e a aplicar os métodos científicos, indubitavelmente a melhor forma seria ir ter com o porteiro e perguntar, se ele gostasse de ter um barómetro bonito, que lho oferecia desde que ele me dissesse a altura do arranha-céus".
COMENTÁRIO TELHADEIRO: Uma amiga minha, professora auxiliar, que fez o seu doutoramento nos EUA, tem uma tese curiosa, mas bastante lógica, para o sucesso da ciência e para o êxito da investigação dos académicos que fizeram os seus percursos nos EUA.
E é um facto que, provavelmente, mais de 50 ou 60% dos Prémio Nobel, por exemplo, ou outros galardões científicos, bem como das descobertas científicas nos domínios das físicas, das químicas, da medicina, das biotecnologias, etc., se devem a investigadores formados e/ou a desenvolverem as suas pesquisas nos EUA.
Quando tiver oportunidade trarei aqui a teoria da minha amiga, que se baseia, dito duma forma muito simples, na estruturação do modelo de ensino, nomeadamente o superior, e no sistema e na forma de ensino e leccionação, que privilegiam a ginástica mental, o exercício da criatividade, de métodos quer indutivos quer dedutivos, a quebra de barreiras, o "empowerment" dos discentes, o pôr em causa as "verdades adquiridas", o relevo dado à interpretação do pensamento e das afirmações dos clássicos (designadamente da e na literatura), as perspectivas de ruptura relativamente aos conhecimentos estabilizados e "cristalizados", etc. Em síntese, as pessoas são "treinadas" para detectarem, identificarem e perceberem "coisas novas", para saberem suscitar e apreender fenómenos novos, para formular correctamente as questões e os desafios, são formadas para equacionarem correcta e rigorosamente as situações reais que a sua imaginação e criatividade conseguem materializar e/ou se lhes deparam, e procurarem as diferentes soluções do problema. Ao invés do sistema de ensino em Portugal ( e não só) que, salvo raras e honrosas excepções, forma "armazéns de retenção estática de conhecimentos e informações adquiridos no passado e cristalizados..."
Qual a vossa opinião, mormente a dos professores e pessoas ligadas a outras perspectivas da problemática educativa que por aqui passam, e sei serem muitos, sobre este importantíssimo tema?
Postado por zé do telhado»